sexta-feira, 14 de junho de 2013

24.11.12

Decidi ir na direcção que diz: “Informações sobre o tamanho d’Isto” – comecei a andar há pelo menos três ou, vá lá, quatro eternidades.
Hoje, encontrei um sinal que dizia: “Bem-vindo ao antigo ¼ do caminho! O posto de informações mais próximo foi deslocado para: Deck Infinitum, Stand Lost. Hora de Abertura: ao final do faltoso elemento, o Incontável – Tempo”
Posto isto, que mais que não espraiar-me?..


Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

domingo, 9 de junho de 2013

(Des)criação

Crio, não crio.
Ao momento da não-declaração
de consciência do que se sabe,
se é que se sabe de alguma coisa.
Criar, não criar – o mesmo que crer, não crer
que ideia de criação mais não é que fé
em bruta Condição.
da Razão – a ideia, com vínculo, poderosa, forte, sem escrúpulos;
do Imo – a concretização inócua, sem-efeito, vazada de significado,
pseudo-Oásis entre-Pontes.

E creio e não creio nos que vejo crer
e criar, abusando da lealdade da fé.
E crio e não creio no que crio e
descrio, descrendo da Ideia de perfeição –
- nenhuma Criação é genuínamente vinda da fé Férrea da Condição
do que se julga humano – ou Divino.



Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

A ti, meu Amor

Deixo-te hoje em verdade, meu amor.
Não há forma de garantir que viva
Que não deixar que te vás em teu vagar.
E te quedes esbraçejando a essa Foz -
Onde não pertenço e onde jamais poderei estar.

Julgo havê-lo pensado há mais tempo - mas a força,
essa alimentada de uma qualquer esperança absurda
e obtusa pseudocimentada de tolho - inexistente - e me vou, ora.

Deixo-te tudo e nada de mim como sempre
O tudo e o nada de mim possuíste -
Deixo-te todos os rios  em que, juntos, não corremos
e todos onde nadámos um pelo outro e nos socorrêmos,
E nos salvámos e fingimos que tudo corre, ainda que
se não mais respire como ordena a natura.

E eis-me, feita mulher dura e lacrimosa,
Em verde bretão desposada de infâmia, colecto ora
as cores negras da nova tela da tua ausência renovada -
e passo a enxergar-te no meu jamais , que nunca é muito tempo.
Ordenho nas manhãs o teu sorriso, consolo-me:
 - Há sempre forma de te fazer meu - aqui e agora.


Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)





sábado, 8 de junho de 2013

Ensaios de um Pseudónimo II

Pensamento da manhã ociosa: o escultor da palavra sente-se desdobrar em identidades, nomes e cognomes e sentires e psudosentires e mil momentos de despejo da alma.
Até não saber que é quem é. Ou se é quem é.

Norberto Damásio

Ensaios de um Pseudónimo

A mulher com que desperto ao lado estranhamente tem os teus olhos, o teu corpo, o mesmo cheiro.
A mulher com que desperto ao lado toca-me com as tuas mãos, beija-me com os teus lábios sem saber que respiras desse lado.
Essa mulher-rochedo ao meu lado é uma sombra fria de ti, vã, vazia, vazada da tua força.
Tu, mulher-cósmica-do-meu-prurido-terreno, afaga-me os cabelos, beija-me a fronte, massaja-me as têmporas, entra em mim.
Que te trago e transporto com a raiva que tem de ser, com o peso do fado luso, com a férrea fé do tudo e do nada, com a força dos braços mortos.
Que te trago e transporto em mim e em todos os pequenos bolsos do pensamento e desaguo no teu estuário, meu delta-cativo.
Ah, sim - desaguo no teu estuário, meu delta-cativo...

Norberto Damásio

sábado, 1 de junho de 2013

Autoproclamação


Aqui, no verde extenuante, fui da análise poética do mais-que-catedrático “oxfordiano” P. Muldoon à bela explanação da Pátria-Língua do meu bom amigo J.R.Castro e... – há sempre uma qualquer sirene (que realmente ouço ao longe, no fundo da madrugada, que ouço!) e que me traz de volta ao meu  mundo de imaginação em que estendida no verde britânico poetizo, se poeta me posso autoproclamar (não o são todos se por ventura um dia acham rara beleza num qualquer calhau à beira do caminho?!).
É saber a beleza, toda ela como a mais suprema força do Universo, se este existe, ou se o idealizamos num qualquer sonho do mais-Ser-Colectivo.
É ser todo sentidos e todo ouvidos. 
É não saber que se é quem se julga ser. 
É ser quem não se julga que é. 
Esgotar-se em duas frases. 
Sentir-se chicoteado pela Realidade que não existe.
Tomar banhos de Sol in-the-middle-of-nowhere.
Mostrar os seios à Natureza, à Terra – essa sem a qual nada mais existiria – nem a Água, sejas Tu quem fores. 
É esvair-se e atirar tudo ao chão, depois.

Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

(revisto em 01.01.2014)